Não suporto a alegria contagiante, nem a ingenuidade dos sorrisos. A vida, afinal, é um jogo de horrores onde a morte é a única certeza reconfortante. Portanto, quando sou coagida a suportar a socialização, exijo o mínimo de dor possível.
O Sem Fronteiras Bar, com sua atmosfera de penumbra e o nome que, ironicamente, soa libertador (embora a liberdade seja uma ilusão), parece ser o lugar menos detestável para a minha atual investigação existencial. Ou, talvez, a próxima cena de um crime. O que for mais promissor.
O Acústico e o Vazio:
Eles insistem em chamar de “música”. Não é o barulho que faz o crânio rachar, nem a sinfonia de um assassinato bem executado. É, na verdade, algo que eles descrevem como “Acústico e Lounge”. Traduzindo para a minha linguagem: ruído de fundo que não interfere na minha contemplação sobre o vazio da existência. É a trilha sonora ideal para ignorar os vivos sem parecer rude – o que é sempre um bônus.
A música é suave, dizem. Não me causa desejo de arrancar meus próprios tímpanos. Isso é um avanço.
O Cardápio de Venenos:
O menu tem bebidas. Nenhuma delas é cicuta, infelizmente. Mas há cores escuras e nomes pretensiosos o suficiente para disfarçar o tédio. Um líquido amargo e profundo é o acompanhamento perfeito para planejar minha próxima vingança ou, no mínimo, a minha fuga.
A Encruzilhada da Não-Perdição:
Este lugar é um ponto de encontro. Pessoas. Tantos alvos, tão pouco tempo. Venham. Sentem-se nas sombras. Fiquem em silêncio e observem o drama alheio se desenrolar. Não falem comigo. Eu já sei o que vocês vão dizer, e é desinteressante.
Se for para estar aqui, que seja útil. Quem sabe um de vocês não está guardando um segredo sombrio que vale a pena desenterrar.
No mais, é o Sem Fronteiras. Não tragam cores. A cor é para os fracos. E sorrir é uma doença contagiosa que me recuso a contrair.
Seja bem-vindo. Agora, vá para o seu canto e não me incomode.
— Wednesday.